Como fundadora e presidente de uma rede de apoio ao empreendedorismo feminino, que conecta milhões de mulheres em todo o Brasil, um dos meus principais objetivos é criar mecanismos que gerem renda e oportunidade profissional.
Para isso, é importante contar com dados e informações que orientem nossas iniciativas, programas e projetos. Essa é a função de nossa pesquisa anual, que há sete anos mapeia com exclusividade o ambiente empreendedor feminino em todo o país, trazendo a realidade de mulheres que buscam apoio para o próprio negócio.
Esta edição, que acaba de sair, é especial por dois motivos: vivemos um momento de transição política, cujos resultados impactarão de alguma forma na sociedade, na economia e no ambiente empreendedor. Além disso, deixamos para trás o pior momento da pandemia da covid-19, onde empregos foram afetados, levando milhares de mulheres para o desafio dos novos negócios.
A nova pesquisa do Instituto RME mostra cenários preocupantes e algum alento no futuro. O estudo revelou, por exemplo, que para 41% das empreendedoras a receita de suas empresas ainda não é suficiente para pagar as despesas do negócio. Já 35% dizem obter receitas suficientes para pagar despesas, mas apenas 11% têm a possibilidade de também poupar.
Nossa pesquisa ainda mostra que, no país, 60% das empreendedoras são negras, 37% brancas, 2% descendem de asiáticos e apenas 1% se considera indígena. Em relação à escolaridade, 28% das empreendedoras possuem ao menos ensino superior e 24% o ensino médio completo.
Esses dados confirmam a importância de uma rede de apoio às empreendedoras, como também de programas e projetos que levem conhecimento, orientações e, principalmente, ajuda financeira, algo necessário para a realidade de muitas empreendedoras em vulnerabilidade social e econômica.
Não podemos esquecer que parte da renda de uma mulher é investida na educação dos filhos, no bem-estar da família e no auxílio à comunidade onde vivem. Isso cria, automaticamente, um ciclo positivo de prosperidade local. Além disso, é bom ressaltar que negócios gerenciados por mulheres acabam empregando outras mulheres, diminuindo assim o desemprego feminino.
Cenário eleitoral
A Rede Mulher Empreendedora e o Instituto RME nasceram apartidários e assim seguem, independentemente de governo e de posicionamento político. Contudo, esta edição da pesquisa não poderia deixar de lado um momento crucial e que impacta na sociedade.
Isso nos levou a ouvir as mulheres das cinco regiões do país sobre o cenário eleitoral: 84% delas acreditam que mulheres devem participar mais do cenário político; 74% gostariam de mais opções para votar em candidatas do sexo feminino.
Além disso, 42% das empreendedoras dizem que escolherão seu/sua candidato(a) pelas propostas, enquanto 26% afirmam que vão votar em quem já conhecem ou já votaram.
Propostas de economia e de educação são as que mais mobilizam votos das empreendedoras. Mas fatores ligados à igualdade de oportunidades e violência de gênero, somadas, também se destacam.
Educação – 21%
Economia + geração de empregos – 21%
Violência de gênero – 12%
Igualdade financeira de gênero – 12%
Mudar este panorama de desigualdade social e de gênero é um trabalho árduo e de longo prazo. Sabemos que para começar a inverter essa realidade, precisamos antes de tudo entender as desigualdades históricas e construir uma jornada social mais justa e mais inclusiva.
Fonte: Valor investe